A Semana Informática no seu número 135 de 9 Setembro  convidou a Neoscopio para participar com a sua opinião neste número cujo tema de capa é o software de gestão.

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Software de gestão explora novos horizontes
De Fátima Caçador / Casa dos Bits
Semana nº 135 de 9 a 15 de Setembro

 
 

A conjuntura económica é o principal factor de pressão no mercado de software de gestão. Para suportar o negócio, as empresas apostam na inovação, em novos modelos de licenciamento e na internacionalização

O balanço da primeira metade do ano não é positivo. A crise e o clima de incerteza afectaram a maioria dos negócios, com impacto principalmente nas pequenas e microempresas, bloqueando vendas e congelando investimentos, mas há expectativas positivas até ao final de 2011, centradas na dinâmica de alguns sectores e principalmente nas empresas exportadoras e em projectos internacionais.

 

O retrato é comum às empresas da área do software de gestão contactadas pelo Semana, e foi confirmado pelos analistas da IDC, que estimam em 2011 uma quebra acima de 2% no valor deste mercado, que abrange licenças e manutenção. No total a expectativa é que sejam gerados pouco mais de 82 milhões de euros neste ano, num sector que já é penalizado por quebras desde 2009, quando perdeu 4,7% do seu valor.

«Numa perspectiva de negócio, a crise económica teve e continuará a ter um efeito negativo no mercado de aplicações empresariais de gestão», explica Gabriel Coimbra, research & consulting director da IDC em Portugal, que aponta alguns factores de dinamização, nomeadamente através dos novos modelos de pay per use que vão alterar a forma de consumir software e transformar os canais de comercialização.

Estes são modelos para os quais a grande maioria das software houses já está a trabalhar, integrando ofertas de cloud computing ou preparando o seu lançamento para breve. A verticalização e a exploração de novos sectores de mercado são também formas de reinventar dinâmicas que pretendem acelerar a concretização de negócios.

Mesmo assim, num mercado muito fragmentado, onde o número de empresas e de soluções de software é muito elevado, o actual contexto económico e a maturidade do mercado deverão apontar o regresso a uma tendência de «consolidação através de fusões e aquisições», alerta Gabriel Coimbra.

Metas realistas
Preparados para os cenários de recessão económica que se antecipavam este ano, a maioria das software houses tinha já alinhado as suas metas com expectativas de vendas mais reduzidas, pelo que as quebras sentidas nos primeiros seis meses do ano eram esperadas. E mantém-se algum optimismo para a recuperação desejada até ao final do ano, com a concretização de alguns negócios em curso e o lançamento de novas versões das aplicações, com funcionalidades mais avançadas que pretendem ajudar as empresas a ser mais eficientes e a optimizar os seus processos.

«Ao preparar os objectivos para este ano, fizemo-lo com grande realismo, definindo como meta para este ano manter o volume de vendas do ano anterior, pelo que estamos confiantes no cumprimento desse objectivo», explica Ricardo Parreira, presidente do Conselho de Administração da PHC Software. Embora o primeiro semestre tenha ficado abaixo das expectativas, a empresa está confiante de que o segundo semestre permitirá recuperar e cumprir as metas estabelecidas, apostando para isso no crescimento das vendas internacionais e no efeito positivo que já está a sentir nas vendas da versão 2012 do PHC CS, da plataforma client server e da solução de cloud computing, o PHC FX.

Na Primavera BSS o forte abrandamento da actividade económica que se registou depois de Abril, com a crise política e a pressão sobre a dívida soberana, forçou a empresa a rever em baixa as perspectivas de crescimento para o mercado nacional. Neste caso os desempenhos registados a nível internacional no primeiro semestre e a boa carteira de encomendas para executar no segundo semestre são as apostas da empresa para conseguir manter, ou mesmo aumentar, o volume de negócios consolidado em 2010, adianta Idalina Sousa, head manager Marketing & Corporate Communication da Primavera BSS. O lançamento de novos produtos e a crescente oferta para a cloud são também trunfos com que contam para conquistar os clientes que querem melhorar os níveis de eficiência e rentabilizar os investimentos já realizados em TI.

«É notória a falta de liquidez por parte das empresas, fruto da actual conjuntura económica, o que se reflecte obviamente no nosso negócio», sublinha Sérgio Rodrigues, director comercial da Eticadata, adiantando porém que, apesar de o clima económico não ajudar, a empresa não está a sentir um decréscimo no volume de vendas comparativamente a 2010, em grande parte devido ao crescimento nos PALOP, que «tem superado largamente as previsões mais optimistas». Por isso, «apesar das previsões menos optimistas para 2012, continuamos a acreditar que possa existir um crescimento no mercado nacional e internacional», afirma.

Paulo Pereira, director comercial e operacional da Alvo, confirma a mesma ideia das dificuldades de tesouraria em grande número de empresas, um dos factores de abrandamento que é agravado pelo clima de incerteza económica que leva as empresas a ponderar «muito mais os seus investimentos». «Neste contexto, embora a procura continue elevada, a Alvo tem sido mais selectiva nos negócios que concretiza».

O elevado volume de encerramento de actividade em empresas de retalho pesa nesta contabilidade negativa, mas, mesmo assim, há quem reporte crescimento na primeira metade do ano. É o que acontece na Neoscopio, na qual os negócios em software de gestão, nomeadamente em ERP e integração, estão a ser melhores do que nos anos anteriores, afiança Miguel Andrade, CEO da software house focada em soluções open source.

José Andrade, responsável pela distribuição do Grupo PIE, diz também que o ano tem estado a correr «acima das expectativas» e qua a sua empresa tem registado «um crescimento sustentado do número de licenças comparativamente a 2010». As perspectivas são pois de continuação de crescimento. O Grupo PIE «espera um aumento significativo desse crescimento devido ao alargamento da oferta à globalidade do mercado do ponto de venda».

Actuando num nicho muito particular de software de gestão de recursos humanos, o Grupo Soft alinha pela mesma tendência. O ano de 2011 «tem estado ao nível de 2010; apesar de todas as condicionantes do mercado em geral, deveremos ter um ligeiro crescimento até ao final do ano. Quanto ao início de 2012, a expectativa é de manter a situação actual, embora tudo dependa de factores de contenção de crise que venham a ser implementados», assinala António Silva Fontinha, administrador.

Factores de crescimento
Parte do optimismo das empresas para o segundo semestre deste ano está relacionado com a premissa de que muitos gestores têm a consciência de que as soluções de software que permitem melhorar os processos e aumentar a eficiência das empresas, os protegem dos factores negativos no mercado, tornando-os mais competitivos. Até porque o investimento não pode parar totalmente. É necessário adaptar as soluções às mudanças legais – como a exigência de certificação do software de facturação, que neste ano se tornou obrigatório para empresas com facturação acima dos 250 mil euros e que em 2012 será aplicado ao escalão abaixo, para quem tem um volume de negócios acima dos 150 mil euros e emite mais de mil facturas anualmente.

Estas novas regras trouxeram um impulso positivo na renovação de licenças, mesmo que muitas empresas tenham feito as alterações sem custos para os clientes que dispunham de contratos de manutenção. A divulgação atempada da informação por parte das entidades das Finanças levou muitas empresas a actualizar as soluções, adoptando versões mais recentes e compatíveis com as novas exigências legais, um movimento que se começou a sentir ainda em 2010 e que estende os efeitos positivos até 2012.

Céu Mendonça, gestora da Unidade de Negócios de PME da Sage Portugal, admite que a segunda fase da certificação será um dos factores que impulsionarão os resultados da empresa, a par do lançamento da nova versão das suas soluções e da reestruturação do actual modelo de negócio, que deverá ser apresentado em breve.

As empresas exportadoras são também um dos motores do mercado, como assinala André Azevedo, mid-market sales executive da SAP Portugal. «O factor que mais tem beneficiado as vendas da SAP nesta área é, sem dúvida, a performance notável das nossas empresas exportadoras», garante. Muitas destas empresas têm escolhido a SAP como parceiro de gestão do seu negócio pela resposta aos requisitos e pela segurança de que «estará ao seu lado em qualquer lugar onde tenham sucursais ou mera actividade de venda, ou seja, terá sempre capacidade para os acompanhar na sua internacionalização», frisa o executivo.

Quer pelo acompanhamento da expansão dos negócios dos clientes, quer pela procura de oportunidades em mercados internacionais, a maioria das empresas contactadas pelo Semana coloca mesmo fora de fronteiras o principal dinamizador das vendas, como fica patente nas declarações citadas na caixa publicada nestas páginas.

Ultrapassar limitações

 
  E os números deste ano são...
 

As limitações de tesouraria e a dificuldade de acesso a crédito são duas das barreiras que as pequenas e médias empresas, assim como as microempresas, enfrentam quando planeiam investimentos em tecnologias da informação. Na actual conjuntura é cada vez mais difícil obter financiamento junto de entidades bancárias e as software houses e integradores tiveram de cozinhar soluções criativas para ajudar os clientes nesta área.

Muitas das soluções não são novas, tal como as dificuldades das PME, mas são reforçadas por força das circunstâncias. António Poças, administrador do Grupo Incentea, aponta o leasing como uma alternativa ao crédito bancário tradicional e explica que a empresa tem aproveitado campanhas promovidas pelos fabricantes e encontrado formas de facturação mais diluídas, aproveitando o equilíbrio financeiro interno. «Existem também fundos comunitários disponíveis para apoio ao investimento na nossa área, nomeadamente o programa FactorPME, promovido pela AIP», que financia em 45% os investimentos em TI, lembra.

Este mesmo programa é também um dos recursos usados pela Neoscopio. «Desenvolvemos um programa para formular as candidaturas dos nossos clientes a este programa. A Neoscopio trata de todo o processo de candidatura sem compromisso para o cliente», explica Miguel Andrade. Mesmo não havendo garantias de aprovação dos projectos, a empresa acredita que é um bom veículo para chegar a um mercado de micro e pequenas empresas, que normalmente tem dificuldade em realizar alguns investimentos nesta área.

A oferta de soluções de cloud computing, em modelos de pagamento de serviço que dispensam investimento inicial, é outra das soluções para ultrapassar as dificuldades financeiras das PME. O mercado de soluções de gestão em modelo SaaS tem vindo a crescer e diversas empresas apostam já na comercialização de vários produtos online, com resultados positivos. Por um custo que ronda os 10 a 20 euros por utilizador, as empresas têm acesso a ferramentas de gestão que antes estavam apenas disponíveis em pacote, obrigando a investimentos de várias centenas de euros.

Algumas software houses já têm várias soluções neste modelo de comercialização, nomeadamente a PHC, a Primavera, a Westix-TI, o Grupo PIE e a SAP, enquanto outras estão a preparar a entrada neste mercado, como é o caso da Sage, da eticadata e da Alidata.

Carlos Costa, coordenador de marketing da Quidgest, avisa porém que «apesar de a cloud estar bastante na moda, ainda há uma certa desconfiança neste tipo de aplicações». Quando uma empresa recorre a uma aplicação em cloud, «dificilmente sabe onde os dados estão armazenados, o que ainda tem algum impacto na confiança sobre a privacidade e integridade dos mesmos. Por estas razões, as aplicações que mantêm um alojamento local são as mais privilegiadas em muitos dos nossos clientes nacionais», explica.

Verticalização mantém-se
A adaptação das soluções às necessidades específicas de cada mercado é uma das tendências que continuam a marcar o sector de software de gestão, mesmo que, em simultâneo, as empresas procurem uma crescente integração com os produtos horizontais. Desta forma procuram garantir uma adaptação mais rápida ao negócio, confiando nas melhores práticas já integradas nas soluções. Por isso, grande parte das empresas dispõe de várias soluções verticais no seu portfolio, cujo número pode ultrapassar as dezenas, como acontece na SAP e na PHC, por exemplo, que respondem à realidade das PME com ferramentas à medida das exigências do negócio.

«A verticalização orienta as soluções de gestão para mercados específicos e nesse sentido simplifica até a utilização da solução. A Logiciel desenvolveu sempre soluções de gestão por módulos, nos quais se incluíram as particularidades de determinados mercados, permitindo orientar as soluções em função dos módulos implementados em cada cliente», explica Rui Beirão, director da Logiciel.

Na mesma linha de ideias, Carlos Lopes, um dos administradores da Filosoft, lembra que «existem sectores muito específicos que necessitam de software também ele demasiado especial para ser colocado num standard», e aponta como exemplo o Segest.32, para gestão de carteiras de seguros, e o Notarios.32, para notários.

A Alidata, que se especializou em software para a indústria, a área automóvel e de manutenção, considera mesmo que a capacidade de verticalização do software é a sua vantagem competitiva num mercado altamente concorrencial. «A especialização por segmento tornou-se numa necessidade, e para nós é mesmo uma questão estratégica. As aplicações do software Alidata nasceram e cresceram em sectores de negócio específicos, são estáveis e maduras, e já demonstraram a sua importância para o crescimento dos próprios sectores. Ao longo dos anos, temos vindo a aproximar-nos cada vez mais das áreas dos nossos clientes e temos conseguido compreender as necessidades de cada sector de actividade de forma a proporcionar uma gestão eficiente e com informações seguras», sublinha Fernando Amaral, partner da empresa.

Em contracorrente, Rui de Sousa, director-geral da Westix-TI, mostra a sua discordância com o conceito. «Não acho que a verticalização seja uma solução racional para as necessidades consideradas específicas das empresas do tipo das que refere [hotelaria, escolas e restauração]. Apostamos na modularização das soluções de forma que cada necessidade específica seja abordada como origem de uma potencial solução standard.» Como exemplo refere o caso das escolas, que têm de gerir horários complexos, pelo que uma aplicação modular especializada na gestão de todo o tipo de horários convenientes às escolas será uma solução standard para um mercado supostamente vertical.