Os participantes do projecto SAPO Summerbits, o primeiro programa nacional de bolsas de apoio ao software livre, organizado pela Associação Ensino Livre e o SAPO, aceitaram a proposta de uma entrevista pública. Publicamos hoje a primeira dessas entrevistas respeitante ao programa PTPOS, software para pontos de venda, totalmente livre e adaptado à realidade portuguesa.

Olá Miguel Costa e Sérgio Neves. O projecto PTPOS pretende criar o primeiro software para ponto de venda totalmente livre e em português, correcto?

Como é habitual no mundo do software livre, existem outros projectos livres, com tradução portuguesa, que podem ser usados como pontos de venda. O objectivo deste projecto é disponibilizar um ponto de venda livre, em português, cumprindo a lei e práticas contabilísticas portuguesas, que possa ser rápida e facilmente instalado em qualquer sistema operativo por qualquer PME portuguesa. Considerámos que o OpenbravoPOS é o projecto que mais se aproxima destas condições, com uma comunidade de suporte e desenvolvimento activa.

Vamos imaginar duas situações em particular: uma pequena empresa familiar com um ponto de venda e uma empresa de média dimensão, digamos, com 10 pontos de venda em pontos distintos do país. Conseguem-nos dar uma ideia dos custos a que estão sujeitos estas empresas se recorrerem a software comercial?

Bom, gostaríamos de notar que o custo não deve ser, no nosso entender, o principal factor de escolha entre software livre e proprietário. O custo baixo é apenas uma consequência da concorrência que a ausência de vendor lock-in permite. O ponto fundamental é a liberdade. Quanto a custos, temos conhecimento de casos de mil euros por ano por posto apenas em licenciamento, mas não foi feito um estudo de mercado nesta área.

Existe algum tipo de condicionantes com a utilização de software comercial para pontos de venda além do custo?

Para além do custo (que se manifesta no pagamento periódico de licenças de utilização), o software proprietário é, tipicamente, mais difícil de integrar com outros sistemas.

Quando poderemos contar com o PTPOS totalmente funcional?

Estamos a apontar para meados de Outubro.

Já existem potenciais interessados para a vossa solução?

Sim.

A longo prazo, como está a ser pensada a articulação com o OPENBRAVO, produto no qual se baseia o PTPOS?Considerando também que serão possíveis alterações ao formato SAFT-PT, exigido pelo Ministério das Finanças e não só, já pensaram como vai ser feita a manutenção do software a longo prazo? Provavelmente, estas perguntas vão na direccção das expectativas que vocês têm em relação ao desenvolvimento de uma comunidade em torno do PTPOS...

O projecto está pensado como "branch" do OpenbravoPOS, para que seja possível manter as componentes específicas do ptPOS sem perder a dinâmica da comunidade que está a desenvolver o OpenbravoPOS. Idealmente, as funcionalidades do ptPOS serão mais cedo ou mais tarde integradas no OpenbravoPOS.

Se vos passassem para a mão recursos ilimitados, quais seriam as prioridades no desenvolvimento de software livre?

A criação de uma rede de especialistas nas ferramentas livres mais utilizadas que permita dar suporte e garantia a empresas e instituições, para que essas mesmas empresas e instituições não tenham receio em adoptar soluções de software livre. Para a maior parte dos decisores, não chega o suporte da comunidade, é necessário saber quem assume a responsabilidade.

Por último, uma opinião sobre a influência que o SAPO Summerbits pode ter a nível do ensino e do software livre em Portugal... a longo prazo, claro.

Um aspecto muito importante já está a ser a familiarização de estudantes com as ferramentas de desenvolvimento mais usadas no desenvolvimento (distribuído) de software livre. A transferência deste know-how tanto para as insituições de ensino onde os estudantes se encontram como para as empresas onde os estudantes virão a trabalhar permitirá sem dúvida agilizar o desenvolvimento de software em Portugal. Naturalmente, o mesmo acontecerá com a sensibilidade para a utilização de software livre.

Miguel Costa (http://www.neoscopio.com) e Sérgio Neves (ISEP).